24 de nov. de 2011

Agora és poesia

@gabegou

Não conseguia lhe dizer nada, nem palavras ou lágrimas, e sua expressão vazia era um espelho. Porém eu já não me reconhecia. Naquela mistura veloz de sentimentos, sentidos, paisagens e personagens, tudo o que lhe via refletir a face era uma tentativa, um quase, uma capitular reticente esperando ser resgatada da solidão.

De repente, me vi em abrupta queda sobre a sua pele lisa e fria, e aquele toque, inacreditavelmente suave, foi o encontro mais profundo entre superfícies.

Aí então já éramos parceiras na dança do destino: meus passos ritmados definiram que, finalmente, ela era uma poesia.

Dia de estreia

Hoje é dia de estreia!
A partir desta data teremos a companhia de Gabriela Goularte no blog. E já começa em grande estilo.


Gabriela, Welkom terug.


Embrace.

23 de nov. de 2011

Eu não imito não duplico não repito nada do que dizem os que dizem mas não dizem nada

Ramiro Simch
@miroez

Nada além de fast food, computador e cadernos. Canetas Bic vazando e sujando os dedos, bonés New Era no carpete. Neurônios vazando e sujando o mundo. O cômodo apertado pra tantas ideias, mas mais cômodo que nunca. Cérebros funcionando vinte e quatro horas por dia, em busca da rima rara.


21 de nov. de 2011

O Sal Tupinambá

@pv_lopes

Uma verdadeira aula de ética e honestidade.



Carona

Ariel Engster
@ensta

Porto Alegre sob chuva, vento frio e forte. Segue o rapaz pela avenida escura da noite e clara da luz dos carros e das casas. De vez em quando um ônibus passa perto e ameaça jorrar a água duma poça. Ele, contudo, nada percebe, a cabeça voa longe. No cruzamento, ela aparece, molhada, linda em sua morenice, tentando inutilmente escapar da chuva. E ele, solícito:

“Quer carona no meu guarda-chuva?”


10 de nov. de 2011

Sonhar Desperta

Juliana Moreira
@jubii_

Sonhei que todos os personagens que já criei se reuniram para me dar conselhos. Havia os que se exaltavam; outros que gesticulavam serenamente um "tudo bem". Outros não se preocupavam e ainda havia os que já esperavam o pior.

Eu os escutei com atenção. Primeiro, para me distrair de uma dolência que me atacou nestes dias. Depois, porque pude ouvir o que havia depois que eu os abandonava nas narrativas.

Aí eu comecei a contar a minha história. Todos me escutavam com atenção, porque gostariam de saber como entraram na minha vida.

E chegando aqui, não sabia mais o que dizer.

- Então escreva! - alguém gritou ao longe. E acordei.


9 de nov. de 2011

Remo - 1

 Ramiro Simch
@miroez

“Que lêndea, eu sou um imbecil mesmo”, pensava Remo enquanto singrava rapidamente as calçadas escuras. “Além do sacrifício normal eu ainda fodo comigo mesmo mais ainda. Que mão”. Havia cochilado na lotação voltando para a zona sul de madrugada após umas e outras, e acordara oito paradas depois da sua. Pelo menos ébrio o rapaz caminhava distâncias gigantescas sem tanto esforço. Ele costumava comentar essa habilidade com alguém, sempre que possível.

Não teve saco nem pra admirar as ruas desertas, prateadas, como usualmente fazia.

Após umas quinze horas fora de casa, o rapaz retornava. O dia fora cansativo, e só um pequeno período de sono o separava do novo despertar. O quarto dividido com o irmão Rômulo estava abafado. “Rômulo e Remo”, a big idea de seus pais. “Pelo amor de Deus, que lêndeas”, raciocinou pela milésima vez. Amassou o travesseiro e roncou.

Acordou ainda mais cedo do que planejava, com o banjo de Ten Million Slaves emanando do velho Nokia. Número desconhecido. “É sete e trinta e oito da manhã, lêndea.”

- Alô.
- Bom dia, é Remo?
- Sim. Bom dia. Quem fala?
- Remo, meu nome é Marisa e eu estou ligando pra te convidar pro sucesso.
- Hã?
- Isso mesmo. Vou te passar o nosso endereço, se tu puder anotar: (...)

E desligou. “Que porra é essa, velho?” - Remo ficara nervoso. “Bom, vou certo”.


4 de nov. de 2011

Éle

Ana Elizabeth Soares
@anabebeth

Lendo longe
Lindo livro livre

Logo ligo
Lugares
Lacunas
Lampejos lisos

Lote lento
Limpo
Luto

Luto limpo
Laço lábia
Lanço lixo

Leio
Lenço
Labuta

Largo

Lá luz latente
Lua
Luz lúcida
Linha

Última

2 de nov. de 2011

Sr. Vaiquevai

Ramiro Simch
@miroez

Sr. Vaiquevai andava
Todo dia, sem faltar
Todo o dia, até o ocaso
Toda a rua, sem pular

Mas, um dia, Vaiquevai
Caminhou até o cartório
E ao notário proferiu:
- Nome próprio vou mudar!

E de Vaiquevai Quevai
Se tornou Sr. Nadão
Que não anda mais pra nada
Tudo agora é natação