29 de mar. de 2012

True story




A preguiça não existe. Existe apenas a reutilização transcorporal do esforço alheio.

27 de mar. de 2012

O Equilibrista

@pv_lopes

Gingava de um lado para o outro. Conseguia manter o objeto equilibrado em uma tênue relação entre o desejo e a gravidade. Prendia a respiração dos que assistiam a sua arte, os quais torciam para que o ato acabasse com sucesso.

O equilíbrio poderia seguir durante horas, pois era aquilo que lhe restava. Todo o resto havia desabado, desmoronado, tal como o número de um malabarista iniciante.
Ele, no entanto, já vivia a experiência há bastante tempo. O objeto significava pouco perante aquilo que ele mais precisava equilibrar.

Seguia pelo caminho esguio da existência. Tornara-se invisível para as pessoas que ao seu lado passavam. Sem casa, sem trabalho, com sua dignidade furtada, pouco lhe fazia sentido.

Na verdade, nada além daquele óculos sem hastes, equilibrado na ponta do nariz, e o seu cachorro, único e fiel espectador.

19 de mar. de 2012

Prenda Minha

@pv_lopes

Um clássico. Dois clássicos. O cancioneiro popular revisitado. O erotismo de décadas passadas, presente no clipe.




http://www.seuconjunto.com.br/

16 de mar. de 2012

Preto nanquim


Então eu vou te contar, e tava na net tá, para um pouco que eu tô contando...Aí, eis que surge de dentro daquela vitrine virtual que era aquela rosca rosa, um olhar tão meigo e humilde quanto sedutor e lascivo. Me pegou de cara. Cê me entende? De uma aparente noite de descarte de esperma a descoberta da paixão platônica mais arrebatadora da minha pré-adolescência maldita, e puta vida, como eu era imbecil.

Gatíssima, aquilo é a tigresa da minha selva. Cara, tem tudo pra ser a garota mais linda que aquela cidade há de produzir. Um pouco baixinha e falta carne, mas porra, tu sabe que é desse jeito que eu curto. Cabelo escuro, pretão, feito nanquim. E um rostinho, bá, cara. Duas covinhas que fazem a terra sorrir junto quando ela sorri e...Tá, foi mal, essa última parte tá um tanto piegas, mas só quis te dar uma ideia. Falei até, mas há muito tempo atrás, eu era garotinho juvenil e falei muita merda. Sei lá, vai ver a mina tem até medo de mim, hoje. Tá, então, te segura que aí vem o detalhe mais foda...Porra, põe foda nisso. Cara, é genial. Se Deus existe, é a prova de que ele tem um senso de humor muito doente: a guria é lésbica! Tô te falando! Absolutamente, irredutivelmente, resolutamente, concretamente e inexoravelmente lésbica. Cara, isso é um soco direto nas bolas! Um paradoxo tão inescrupuloso quanto a própria natureza humana! Um motim contra o curso natural dos fluidos genitais. Cara, isso é pura poesia. Elegi ela a minha musa eterna. É muito engraçado, eu começo a falar dela e me empolgo assim, viu? 

Essa que é a beleza, taí a vida dessa parada: eu sou do tipo de homem que se deixa apaixonar no ônibus. Se isso faz alguma diferença na minha vida? Provavelmente nenhuma. Mas essa sensação, tão perto e tão longe, o intocável, a peça de museu cara demais para ter na minha sala, mas tangível o bastante pra que eu possa vê-la lá. Esse é o tipo de abstração que move a humanidade, saca? A lésbica de ouro, modelo único, feita à mão.
Chega de papo e me serve um copo, bro. 

14 de mar. de 2012

Bom semestre!



De um tempo pra cá vem me acontecendo quase diariamente: percebo o quanto a nossa sociedade séria é hilária.

Economistas na televisão discursando sobre a oscilação dos mercados; professores dando aula sobre redes sociais; pedreiros erguendo edifícios - quase impossível não esboçar um sorriso mental ao computar tudo isso. Somos cômicos perto da simplicidade dos animais.

Me parece que criamos nossas próprias necessidades. Nos dividimos em classes sociais, e definimos produtos pra cada uma delas. Nos comunicamos, e estudamos a maneira como nos comunicamos.

Somos praticamente um mundo fictício do cinema ou dos games. Um roteirista cósmico criou toda a nossa mitologia pós-moderna e continua por aí, escrevendo novos capítulos.

Qual tipo de personagem tu encarna?

12 de mar. de 2012

Porque o centro é tão longe

@pv_lopes

- Mãe, por que o centro é tão longe?
- Não é o centro que é longe, mas sim a nossa casa.
- Por que a gente precisa ir até o centro?
- Porque tudo está lá, meu filho. No nosso bairro não tem nada.
- Mas mãe, eu fico muito cansado quando precisamos fazer qualquer coisa.

As cidades enfrentam grandes problemas de locomoção que são explicadas pela forma como foram planejadas. Os serviços são divididos por zonas e o deslocamento foi influenciado pelo uso de automóveis.
Isso ocasiona o gasto de horas no trânsito e impacta na qualidade de vida. No final de semana, o motorista compra a sua felicidade em 60 prestações para poder compartilhar a sua solidão com 70% dos automóveis.

Precisamos inverter essa situação. Pensar de forma coletiva a locomoção. Descentralizar as atividades. 
Jaime Lerner apresenta uma ótima reflexão sobre o assunto na palestra realizada no TEDx: