27 de mar. de 2012

O Equilibrista

@pv_lopes

Gingava de um lado para o outro. Conseguia manter o objeto equilibrado em uma tênue relação entre o desejo e a gravidade. Prendia a respiração dos que assistiam a sua arte, os quais torciam para que o ato acabasse com sucesso.

O equilíbrio poderia seguir durante horas, pois era aquilo que lhe restava. Todo o resto havia desabado, desmoronado, tal como o número de um malabarista iniciante.
Ele, no entanto, já vivia a experiência há bastante tempo. O objeto significava pouco perante aquilo que ele mais precisava equilibrar.

Seguia pelo caminho esguio da existência. Tornara-se invisível para as pessoas que ao seu lado passavam. Sem casa, sem trabalho, com sua dignidade furtada, pouco lhe fazia sentido.

Na verdade, nada além daquele óculos sem hastes, equilibrado na ponta do nariz, e o seu cachorro, único e fiel espectador.

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