31 de out. de 2011

Sonho Brasileiro

@pv_lopes

Gostaria de compartilhar a recente pesquisa lançada pela BOX 1824. Pode parecer que não tem muito a ver com o que vem compondo as segundas-feiras, contudo grande parte do blog está nessa fase da vida. Lívia, Joana, Nicole e  muitos dos leitores do Coelho Holandês.

Enfim, chega de enrolação:



Sonho Brasileiro_Manifesto from box1824 on Vimeo.

28 de out. de 2011

Histórias do Mundo ao Avesso

Gabriel Oro
@gabriel_oro

Mark Twain disse uma vez que a diferença entre a realidade e a ficção é que a ficção tem que ser crível.

Em uma das saídas de Porto Alegre existe o que deve ser um dos casebres mais miseráveis que esse mundo já viu. Pouco “casa” e muito “ebre”. Em dias de chuva, não acredito que o seu interior fique muito mais seco que a parte externa. Na verdade, quando o vi, a impressão imediata foi a de que um cavalo bem alimentado poderia derrubar toda aquela estrutura usando uma pata só. Talvez por isso o cavalo preso a uma carroça em frente ao casebre fosse tão qualquer outra coisa, menos bem alimentado.

O lugar tinha na sua orla uma criança barriguda que brincava balançando um pedaço de pau com uma corda na ponta, certamente feito pra açoitar pele e osso daquele cavalo cabisbaixo. Havia também, na janela, uma senhora de olhar perdido, que já nem fazia ideia de quantos anos tinha, muito menos de como ainda os tem.

E havia também, no centro daquilo tudo, uma grande placa vermelha, limpa e reluzente, com o logo da Coca-Cola e o belo slogan: “Viva o lado Coca-Cola da vida”.



27 de out. de 2011

O Empalhador de Zebras - capítulo VI

Ramiro Simch
@miroez

O sono dela é tranquilo como o de uma zebra. Deve ser porque apliquei um pouco de sedativo animal. Veio mortinha da savana até aqui. A brasileira é bonita, pena que é metida a proteger bicho. Achei desenhos e poemas nas coisas da artistinha wannabe.
Sem sentimentos, o jogo não permite. Ela quer foder meu esquema em vez de cuidar da própria vida. Não tem nada no mundo que me irrite mais que gente intrometida.
Essa lareira tá me matando, e isso é bom. Quanto mais desconfortável a situação dela for, melhor. Vamos assustar um pouco essa vagabunda quando acordar.

– –

Sou desperta pelo calor insuportável que preenche o aposento. A lareira está acesa, o que eleva a temperatura a níveis doentios. Estou em um quarto, que parece pertencer a um hotel de quatro ou cinco estrelas.
Sem a menor ideia de como parei ali, recosto-me na cabeceira da cama alta e confortável, guarnecida de lençóis brancos e vaporosos. À esquerda, uma grande janela deixa ver uma metrópole estendendo-se ao redor do edifício. Só pode ser Kinshasa, a capital do Congo! Será que estou sonhando, dormindo em minha cabana?
Respiro devagar, tentando raciocinar entre os pulos do meu coração. O pânico cresce, e tento enfrentá-lo com lembranças de meu avô e das zebras. Esforço-me para romper o bloqueio que esconde os acontecimentos, mas a tarefa é árdua demais. Pareço dopada.
Viro o olhar à direita, finalmente. Matsambackers está sentado em uma poltrona, a uns dois metros, me encarando.


**

capítulo I
capítulo II
capítulo III
capítulo IV
capítulo V

24 de out. de 2011

Ilusões a prazo

@pv_lopes


Lívia conheceu um cara bem legal. Ele parece ser o mais próximo do companheiro ideal. Inteligente, divertido, seguro. Faz duas semanas que se conheceram e se encontram quase todos os dias.
Já tomaram suco na Lancheria, já foram ao Ocidente. Já curtiram as fotos juntos no facebook. Já fizeram várias juras ao pé do ouvido. Parecem estar juntos a séculos. 

Ela trocou o livro pelo msn. A bicicleta pelo sofá da sala. Acredita que vai trocar a vida por uma nova. Ele sempre a chama pelo nome, a cada encontro tem uma surpresa.

Cuidado, Lívia. O disco em comum não corresponde à boa vida a dois. Não compre ilusões a prazo. Não confie seu tempo a quem não merece.





Mais momentos de Lívia

22 de out. de 2011

Ariel Engster
@ensta

Certa vez uma moça acordou no meio da noite, sobressaltada. Sentia seu corpo morno, sentia um peso que não era seu. Levantou-se, sem saber por que, deu um passo, sem saber como. E deu-o como se fosse a primeira vez que o fazia.

A este passo seguiu-se outro e mais outro. Assim, tão de repente como despertara, caminhava. Era pouco, mas já podia dizer que criara coragem de andar. Afinal, poucas coisas são tão difíceis quanto caminhar no escuro. E, veja só, parecia estar feliz naquele momento. Cada pé contra o chão era um beijo de amor, e era disso que ela precisava. Sem nem notar, já estava correndo.

Contudo, não se pode fugir a contratempos. Aos poucos, notou que seu corpo cansava. A moça, enfim, esqueceu da felicidade dos passos e entregou-se à fatalidade do incômodo. Fora pega pelo seu pior inimigo: ela mesma. Se ainda fosse voar, em vez de caminhar…

Voltou e fez com que tudo parecesse como é para os comuns: um sonho. Dessa forma não correria mais o risco de cansar-se novamente. Deu-se por contente com uma ilusão (sem tigres, nem coleópteros).


20 de out. de 2011

Ramiro Simch
@miroez

Quem não tem mais o que dizer,
Vai dizer algo por dizer.
Quem tem muita coisa pra dizer
Também tem muito em que pensar,
Por isso vai deixar de dizer.
[Só não pode deixar de tentar.



17 de out. de 2011

Kids

@pv_lopes


Sei que o dia das crianças já passou, mas eu não poderia deixar de postar esses dois vídeos. 





14 de out. de 2011

sobre a figura mais melancólica que eu já vi


Paulo H. Lange
@ph_lange

E quando eu sentei na frente da loja - te contei essa, einhô... Hein, cara, te falei da vez que eu vi o velho na frente da loja? Tá... Então eu tava acompanhando a minha namorada e a sogra, foram comprar roupas. Coisa de mulher, obviamente eu tirei os fones do bolso e sentei do lado de fora. Aí eu levantei os olhos devagar e de repente vi a figura mais melancólica que eu já vi. Foi um susto mesmo, sabe? Tu olha pruma pessoa e sente tanta pena que dá vergonha. Depois de uns 30 segundos, percebi que eu tava encarando ele com uma cara tão séria que se ele me visse, era capaz de achar que eu era um psicopata, ou coisa assim. Pra ajudar, o Mick Jagger tava dançando na minha orelha me dizendo coisas como "You can't always get what you want" e quando eu troquei de música pra não acabar com o meu dia que já tinha começado mal numa vitrine de boutique feminina, surge um Nick Cave sussurrando pra mim "hold on to yourself". Porra, eu tava sem saída e achei que aquilo era um sinal. Não acredito em nenhuma superstição, mas quando alguma coisa convenientemente se encaixa, é como se Deus tivesse dado um toquinho no meu ombro e quando eu virasse de volta depois de ver que não foi ninguém, eu percebesse alguma coisa incrivelmente óbvia na minha frente. Então eu fiquei ali pensando no velho.   

Era um senhor numa cadeira de rodas com uma esparadrapo na veia do braço e fumando um cigarro no canto da vitrine, uma vitrine enorme com um letreiro enorme e um velho fodido largado no canto, que provavelmente já serviu de mictório público em algumas noites. Não tô querendo te deixar pra baixo, mas é que essas coisas ficam na minha cabeça, eu vejo que sem exagero tenho uma tendência a ficar que nem ele. Pra começar, ele tava fazendo a mesma coisa que eu, esperando as filhas, sobrinhas, netas... E de lado, ainda, porque a calçada era inclinada... Imagina, nem pra esperar a morte tu pode escolher uma posição!

Ultimamente tenho percebido bastante essa minha obsessão com perdedores. Não que eu realmente ache que vá ser um, mas porra, a vida é uma coisa tão incrivelmente grande, qual é a desse pessoal? Por que vocês me fazem escrever sobre gente que morre sem ter sido especial pra ninguém, ou já foi, mas essa outra pessoa morreu antes e ele termina tipo uma sombra no entardecer, esperando pra se ajuntar com o resto da mediocridade humana e fazerem juntos uma grande sombra que cobre o mundo todo e se juntam, na verdade, pra ficarem mais invisíveis ainda?

É essa porcaria de Nick Cave, preciso parar de escutar esse cara.


10 de out. de 2011

Pedalada até o Gasômetro

@pv_lopes


Queria mudança. Não sabia ao certo o que mudar, apenas que algo precisava ser feito. Sentia a necessidade de ter uma vida melhor para si e para as pessoas que viviam ao seu redor.
Aquilo a deixava inquieta, há vários dias afundava nas inquietações da incerteza, quase sempre com os olhos marejados.

Ações colaborativas começavam a chamar a atenção de Lívia. Decidiu buscar mais informações sobre o que fazer, em qual área podia participar.

Precisava andar pela cidade, mas para isso queria liberdade. Comprou uma bicicleta. Depois do almoço colocou uma bermuda jeans, all star branco que combinava com a camiseta e óculos de sol. Montou em sua bicicleta e seguiu em direção ao Gasômetro.

Atravessou a Redenção, passou pela Cidade Baixa e chegou ao destino. O cheiro da pipoca doce sempre trazia boas recordações. 
Passar aquelas horas ali fez bem a ela. Faz bem a maioria das pessoas. Conhecer a si facilita o entendimento do outro. 

7 de out. de 2011

Ney aí

Ramiro Simch
@miroez

Luiz Ney acordava. Aguava o rosto, punha roupa e saía. No ombro o caixote aninhado, pesado. Os moradores da Rua Águia sofriam: o que vai dentro do baú do Luiz Ney?

Passeava garboso, leve rebolado, elegante apesar do fardo. Não cumprimentava vizinho nenhum. Era só queixo empinado e autossuficiência, até alcançar o nono número da rua (vindo de lá pra cá).

Na frente do sobrado vermelho ele abria um sorrisinho, suingava mais ainda, e de sobrolho focava o rapazote debruçado na sacada. Este retrucava com malícia equivalente, analisando dos tornozelos ao rabo de cavalo o cabeleireiro atlético. Tais rituais de platonismo amoroso duravam só os cinco segundos necessários para Luiz Ney chegar às lajotas de basalto da próxima casa, mas eram intensos.

Logo Luiz Ney voltava ao normal, reignorava o mundo e a mocinha que também o observava com desejo. E lá se ia com o caixote. As velhinhas da Rua Águia achavam uma indecência provocar tanta curiosidade.  

3 de out. de 2011

Amor literal

@pv_lopes

Ao ver esse vídeo lembrei das figurinhas "amar é", que fizeram
parte da infância de muitos de nós.

O vídeo é singelo, como o sentimento.