27 de abr. de 2011

O Empalhador de Zebras - capítulo IV

Ramiro Simch
@miroez


"Lá tão elas, senhor: as punda milia!" O aviso me reativa. De fato, já se vê a manada, bebendo água em um riacho ao norte. Também por ali, dois ou três barracos se equilibram embaixo desse sol de merda. Não chegam a ser um problema, mas preciso levá-los em conta na missão. Pelo menos ainda estamos a uma distância confortável da aldeia mais próxima, Makineh. Não vão haver imprevistos.

Tshombe estaciona a caminhonete e seguimos a pé, pra não espantar as zebras. Chegando perto das cabanas, o crioulo ergue a espingarda e - fiu - fiu - bota os bichinhos pra dormir. O resto foge, mas duas delas não levantam mais. Tranquilidade.

Um casal de velhos observa a cena da porta de uma das casas. As outras tão fechadas. Vou até eles. Os dois já sabem o que tá acontecendo ali. Umas moedas pulam do meu bolso e são o suficiente. Boquinha fechada, hein - foi mais limpo do que mandar pra vala os dois mortos-vivos. 

Pegamos o automóvel e vamos colher os frutos. Me sinto bem enquanto colocamos os animais na caçamba. Foi tão fácil. Me sinto eficiente. Chego até a sentir uma quase simpatia pelo pobre Moïse.

Deu. O negão entra na caminhonete enquanto eu limpo a bota. Por acaso, viro a cabeça pras cabanas. Fico sem ar. Tem uma outra mulher olhando pra nós e falando rápido no celular, uma mulher que não tava ali antes. Uma branca. Uma estrangeira.



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capítulo I
capítulo II
capítulo III

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