12 de ago. de 2011

O Empalhador de Zebras - capítulo V

Ana Elizabeth Soares
@anabebeth

Depois de ter tornado minha cabana habitável novamente, trocando algumas madeiras e consertando a maioria dos móveis, resolvi transformá-la, enfim, num lar. Os finais de tarde, tempo que dedico aos meus pensamentos e ao pôr-do-sol africano, meu combustível, acabaram me inspirando. Consegui com os vizinhos alguns tocos de carvão e deixei a imaginação e o desejo fluírem nas folhas de papel.
Hoje, depois de outra busca sem sucesso ao médico austríaco, emoldurei dois pequenos desenhos que fiz retratando a savana e pendurei-os na parede da sala, que também é meu quarto.

--

Estou me sentindo cansada e desmotivada. Chega o entardecer, porém nem o pôr-do-sol quero ver. Pretendo dormir cedo. Amanha é um novo dia, uma nova esperança, preciso acreditar nisso. Adormeço em meio a pensamentos sobre minha jornada diária frustrante, sem nunca obter respostas concretas. Imagens e sensações permeiam minha mente, zebras, zebras, alguém de chapéu carregando-as. Devo estar sonhando. Não sei quanto tempo se passa. O telefone toca, não quero atender. O barulho incessante do celular me desperta. A voz no telefone diz só três palavras. Corro para a porta fazendo perguntas. Meu coração para.
A paisagem do meu pôr-do-sol está manchada de sangue.
E os cabelos dele, ao entardecer, ainda mais dourados.
Aquele olhar, mesmo ao longe, causa um calafrio sem igual. As feições angelicais definidas por uma única cicatriz na têmpora esquerda. O rosto do médico, marcado pelo assassino.
--

Eu saio correndo, sem pensar, em direção à camionete que avança, cada vez mais rápido, na direção oposta à aldeia. Aos poucos vou perdendo o fôlego.
Olho para trás e avisto um vulto cada vez mais próximo. É a última coisa que vejo antes dos meus olhos se fecharem.



**

capítulo I
capítulo II
capítulo III
capítulo IV


Nenhum comentário:

Postar um comentário