27 de out. de 2011

O Empalhador de Zebras - capítulo VI

Ramiro Simch
@miroez

O sono dela é tranquilo como o de uma zebra. Deve ser porque apliquei um pouco de sedativo animal. Veio mortinha da savana até aqui. A brasileira é bonita, pena que é metida a proteger bicho. Achei desenhos e poemas nas coisas da artistinha wannabe.
Sem sentimentos, o jogo não permite. Ela quer foder meu esquema em vez de cuidar da própria vida. Não tem nada no mundo que me irrite mais que gente intrometida.
Essa lareira tá me matando, e isso é bom. Quanto mais desconfortável a situação dela for, melhor. Vamos assustar um pouco essa vagabunda quando acordar.

– –

Sou desperta pelo calor insuportável que preenche o aposento. A lareira está acesa, o que eleva a temperatura a níveis doentios. Estou em um quarto, que parece pertencer a um hotel de quatro ou cinco estrelas.
Sem a menor ideia de como parei ali, recosto-me na cabeceira da cama alta e confortável, guarnecida de lençóis brancos e vaporosos. À esquerda, uma grande janela deixa ver uma metrópole estendendo-se ao redor do edifício. Só pode ser Kinshasa, a capital do Congo! Será que estou sonhando, dormindo em minha cabana?
Respiro devagar, tentando raciocinar entre os pulos do meu coração. O pânico cresce, e tento enfrentá-lo com lembranças de meu avô e das zebras. Esforço-me para romper o bloqueio que esconde os acontecimentos, mas a tarefa é árdua demais. Pareço dopada.
Viro o olhar à direita, finalmente. Matsambackers está sentado em uma poltrona, a uns dois metros, me encarando.


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capítulo I
capítulo II
capítulo III
capítulo IV
capítulo V

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