12 de set. de 2011

Nicole

@pv_lopes


Talvez nunca houve cabelos ruivos que tivessem tanta  sintonia com as ruas do Bom Fim como os de Nicole.  Lisos, balançados pelo vento, encantavam aqueles que andavam pelo brique na manhã de domingo.

Volta e meia ela os prendia, e com eles a respiração dos seus admiradores. Alguns deles achavam que a moça morava na João Telles, outros na Garibaldi, mas o que realmente sabiam era que a Redenção, nos finais de semana, era o lugar certo para encontrá-la.

Certa vez, por volta das 16 horas, estava ela, vestido claro, faixa no cabelo, sentada na grama. Na mão uma taça de vinho branco; dentro da cesta alguns petiscos e uma taça sobressalente. Escorada em uma árvore, sorvia aquela bebida como alguém que abre  as janelas para deixar o sol iluminar a casa e a vida. Por vários minutos permaneceu de olhos fechados, gozando de uma felicidade particular capaz de irradiar o que estava ao seu redor. Todos pensaram que alguém chegaria para fazer companhia, porém após quase duas horas Nicole guarda a taça que usava e vai embora do parque.

Mais uma semana envolta por mistérios. Discutiam como fazer para descobrir sobre aquela moça que semanalmente aparecia para alegrar as suas vidas. Decidiram que um deles tentaria se aproximar dela.
Dedicaram a semana inteira para pensar na melhor forma de iniciar uma conversa com ela, e, principalmente, escolher quem faria isso.

Era manhã de sábado, um dos dias mais esperados por todos. A medida que as horas passavam a angústia tomava conta, movida pela ausência daquela que há cinco finais de semana se fazia presente.
Algo nela dizia muito a todos que frequentavam o parque. Para eles, Nicole representava mais que uma moça de traços finos, ela carregava erotismo de uma forma sublime, como alguém que empurra com um sopro a pena que pousa sobre a água.

O sol já estava quase se pondo quando ela apareceu, mochila nas costas, óculos escuros e fones nos ouvidos. Seguia em passos rápidos, impenetráveis, não deixando chance alguma para desvendá-la. Essa incerteza causada por ela abriu um espaço gigantesco para as suposições mais diversas possíveis. Todos já pensavam em desistir de conhecê-la, deixá-la apenas presente na imaginação coletiva. No entanto as coisas não mudam nessa velocidade, nem o hábito de visitar o brique no domingo.

- Bom dia! Uma pipoca.

A explosão de euforia dos admiradores de Nicole foi mais forte que as pipocas saltitantes no carrinho. Ela estava ali, bela, com um grande sorriso no rosto, pedindo pipoca. Finalmente alguém conseguira ouvir a sua voz.

-Doce ou salgada?

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