27 de jul. de 2011

Lápis e Canetas

Henrique Gabineski
e
Ramiro Simch
@miroez



Em uma tarde quente, um lápis velho chamado Grafite (Grafite era seu nome, mas todos os outros lápis o chamavam de “Vovô Lápis”) estava escrevendo em uma folha de papel.
Rogério, o dono de Grafite, via seus colegas escreverem com suas novas canetas Bic, enquanto ele só usava os antiquados lápis.
Grafite era um lápis velho que já fora apontado inúmeras vezes. Por isso, só tinha cinco centímetros de comprimento. O lápis era todo descascado.
As canetas não tratavam nenhum lápis bem, mas, geralmente, o velho Grafite era o mais maltratado.
As canetas e os lápis viviam em conflito, uma guerra que ninguém mais se lembra quando começou.
Nos estojos, começavam por insultos as brigas que derramavam tinta e quebravam grafites.
Antigamente, os lápis eram em maior número mas agora as canetas estão no poder.
Grafite já guerreou muito, mas agora está velho e cansado. Ele sabia que aquela guerra era inútil e desejava a paz entre todos os materiais escolares.
Naquela tarde começou mais uma batalha.
O amigo de Grafite (praticamente o único), Pencil, foi visitá-lo, quando ouviu os insultos contra Grafite.
- E aí, lápis velho? – gritou uma caneta.
Pencil, muito orgulhoso, não deixou por menos.
- Ô meu, qual é a tua? – perguntou Pencil.
- E tu também, lápis fedorento! – disse a caneta.
- Vai levar porrada, caneta chinfrim! – falou Pencil, que era revoltado e muito orgulhoso, e partiu pra cima da caneta.
A briga ia começar, Pencil ia dar um soco em sua adversária quando seu dono Rogério o pegou.
Segundos depois, veio Tinto, o general caneta.
- É aqui, general, aqui que estavam brigando! – disse uma caneta.
- Há quanto tempo, Grafite! – disse falsamente Tinto.
- É mesmo, seu larápio! – respondeu Grafite.
- Você me ofendeu. O que estava acontecendo aqui? – perguntou Tinto rispidamente.
- Apenas uma briguinha de jovens. Entre uma de suas canetas e o meu amigo Pencil.
- Eu não quero saber! Eu te desafio! Vamos ver se ainda sabe lutar! Amanhã, às duas. Você irá!
Depois disso, Tinto foi embora.
Grafite pensou em não comparecer ao desafio mas depois mudou de ideia. Em uma batalha antiga, quando Grafite ainda era jovem, ele foi derrotado por Tinto, graças a uma trapaça da caneta. Essa derrota gerou o estado de ditadura das canetas sobre os lápis. Grafite nunca se conformou com isso e percebeu que esse duelo era sua oportunidade de vingança. Mas ele não gostava de brigas e resolveu que arranjaria uma solução sem violência.
No dia seguinte, no campo de batalha...
- Veio, então!
- Sim!
- Então que comece a luta!
Assim, a batalha começou. Na verdade, Grafite estava muito velho e não podia mais lutar. Por outro lado, Tinto sempre treinava e estava em ótima forma.
Quanto Tinto atacou, o pacífico Grafite escapou com muita dificuldade e sabia que já estava perdido. Porém, teve uma ideia...
Observou que Tinto já havia participado de muitas batalhas e que seu corpo era cheio de cicatrizes e rachaduras. Se aproximou de Tinto e tirou a tampa (que é o ponto fraco das canetas) dele. A tinta vazou por todo o corpo do general, que foi derrotado.
A batalha acabou e Grafite venceu. A vitória do lápis ocasionou a paz entre as canetas e os lápis, e Grafite foi nomeado o rei dos lápis e das canetas. Dessa união surgiram as pacíficas e sossegadas lapiseiras.
Depois de tudo isso, a paz reinou até que Rogério ganhou um pacote de canetas hidrocores, mais conhecidas como “canetinhas”, que, apesar do nome, era uma malvada e orgulhosa raça. Mas isso já é outra história...


Texto publicado no livro Crianças do Rio Grande Escrevendo Histórias, de 2003

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