1 de jul. de 2011

Rascunho para a orelha de um livro qualquer

Ariel Engster
@ensta


Fizeste, caro leitor, uma bela compra. Ou ótima locação, pois tenho certeza que é tão fantástica esta obra que será obrigatória em toda biblioteca de respeito, tanto no Brasil quanto fora dele. Enfim, fizeste, caro leitor, uma boa escolha da qual não te arrependerás.
Tens em mãos, meu amigo, uma preciosidade. As palavras que aqui se encontram casam-se com uma sutileza encantadora. As reviravoltas são emocionantes e os diálogos perspicazes. O protagonista é tão heróico que devia ser nome de escola e ter uma estátua em uma grande avenida. Eu admiro, caro leitor, a inenarrável habilidade deste autor de pôr no papel os mais tocantes sentimentos. Por isso, tanto faz se a história que ele contar se passar numa palhoça no interior da Bahia ou num charmoso hotel na Champs-Élysées, sempre será uma deliciosa leitura. Imagino que assim também seja este livro.
Imagino, pois não li o livro. Sinto-me na obrigação de confessar. Não me leve a mal, por favor. Também não suspeite que o fato de eu não ter lido é prova de que não vale a pena lê-lo. Isso não é verdade. Há milhares de livros por aí que eu não li ainda. Provavelmente, o melhor livro de minha vida ainda está numa estante qualquer em algum lugar por onde não passei. Ou, quem sabe, ainda na cabeça do autor. Além do mais, tenho lido tantos livros ruins que acho até que o problema sou eu.
Este livro, entretanto, é uma bela obra. Tenho certeza disso. Se acontecer, por acaso, de o livro não ser tudo aquilo que propagandeio, por favor não me culpes. Sou somente a flor no cabelo da morena: não sou necessário, mas embelezo um pouco mais. Sou só a sombra do autor, tenha pena de mim. Mas se o livro for bom, quem sabe não estarei logo escrevendo orelhas para autores consagrados?
Além disso, acho uma maldade que nos contem antes a história que iremos ler.


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