14 de jul. de 2011

Solidão Salgada

Ramiro Simch
@miroez

Seus sentimentos se parecem com aquele homem.

O homem navega sozinho. Singra as águas espessas, o mar cinza e gelado que enlouqueceria um ou outro mais frágil. Mas não ele.

Todas as manhãs o homem senta-se no convés, com as costas apoiadas na parede de metal da cabine. Assim ele permanece durante todo o dia, encolhido em um cobertor pardo que o cobre do queixo aos pés. É frio demais ali.

Ele poderia ficar dentro da cabine, ou no aposento sob seus pés. É mais quente, confortável, mais seguro. É seco. As ondas não o chutariam quando ultrapassassem a amurada, a chuva e o vento não o castigariam, e ele não ficaria ensopado e doente.

Mas o homem não pode ficar dentro de nada. Ele não conseguiria. O homem precisa estar ali, cara a cara com o ar, as nuvens e o oceano. O mar é tudo para ele - seu acompanhante, sua muleta, seu amigo. Este mar, que não nos é importante (pois colocamos o que importa nos mapas, e este mar não está em nenhum), é o elemento essencial da rotina do homem.

Aquele homem se sente sozinho. É uma dor sem remédio e final, que apenas o mar ameniza. Seja cauteloso. Não deixe que seus sentimentos, estes sentimentos parecidos com aquele homem, tornem-se iguais a ele.



2 comentários:

  1. "O homem navega sozinho. Singra as águas espessas, o mar cinza e gelado que enlouqueceria um ou outro mais frágil. Mas não ele."

    "Todas as manhãs o homem senta-se no convés, com as costas apoiadas na parede de metal da cabine. Assim ele permanece durante todo o dia, encolhido em um cobertor pardo que o cobre do queixo aos pés. É frio demais ali."

    "Aquele homem se sente sozinho. É uma dor sem remédio e fina (...)"

    Eu queria fazer um comentário a altura do texto. Impossível. Deixo, então, esses trechos acima.

    Porque eu me entendo.

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  2. valeu. se quiser, brinde-nos com um outro texto.

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